DANIEL BERG
Conheça a
história do missionário, evangelista, pastor e fundador das Assembleias de Deus
no Brasil
Foto: Daniel Berg, com sua família. Berg fundou as
Assembleias de Deus no Brasil em 18 de junho de 1911, juntamente com Gunnar
Vingren e 18 crentes batistas de Belém (PA) que creram na doutrina do batismo
no Espírito Santo.
DANIEL BERG
(1884–1963)
Missionário, evangelista, pastor e fundador das Assembleias
de Deus no Brasil. Nasceu em 19 de abril de 1884, na pequena cidade de Vargön,
na Suécia, às margens do lago de Vernern. Quando recém-nascido, o padre da
cidade visitou inúmeras vezes a casa de seus pais para convencê-los a
batizá-lo, mas nada conseguiu. Por isso, desde criança, Daniel era mal visto
pelo padre, que, desprestigiado, passou a dizer que a criança que não fosse
batizada por ele jamais sairia de Vargön. “Já naquele tempo pude observar a
desvantagem e o perigo de o povo ter uma fé dirigida, sem liberdade. A religião
que dominava minha cidadezinha e arredores impossibilitava as almas de terem um
encontro com o Salvador”, conta o pioneiro em suas memórias.
Quando o evangelho começou a entrar nos lares de Vargön,
seus pais, Gustav Verner Högberg e Fredrika Högberg, o receberam e ingressaram
na Igreja Batista. Logo procuraram educar o filho segundo os princípios
cristãos. Em 1899, quando contava 15 anos de idade, Daniel converteu-se e foi
batizado nas águas na Igreja Batista de Ranum.
Em 1902, aos 18 anos, pouco antes do início da primavera
nórdica, deixou seu país. Embarcou a 5 de março de 1902, no porto báltico de
Gothemburgo, no navio M.S. Romeu, com destino aos Estados Unidos. “Como tantos
outros haviam feito antes de mim”, frisava. O motivo foi a grande depressão
financeira que dominara a Suécia naquele ano.
Em 25 de março de 1902, Daniel desembarcou em Boston. No
Novo Mundo, sonhava, como tantos outros de sua época, em realizar-se
profissionalmente. Mas Deus tinha um plano diferente e especial para sua vida.
De Boston, viajou para Providence, Rhode Island, para se
encontrar com amigos suecos, que lhe conseguiram um emprego numa fazenda.
Permaneceu nos Estados Unidos por sete anos, onde se especializou como
fundidor. Com saudades do lar, retornou à cidade natal, onde o tempo parecia
parado. Nada havia se modificado. Só Lewi Pethrus*, seu melhor amigo,
companheiro de infância, não morava mais ali. “Vive em uma cidade próxima, onde
prega o evangelho”, explicou sua mãe.
Logo chegou a seu conhecimento que seu amigo recebera o
batismo no Espírito Santo, coisa nova para sua família. A mãe do amigo insistiu
para que Daniel o visitasse. Aceitou o convite. No caminho, estudou as
passagens bíblicas onde se baseava a “nova doutrina”.
Chegando à igreja do amigo Lewi Pethrus (Igreja Batista de
Lidköping), encontrou-o pregando. Sentou e prestou atenção na mensagem. Após o
culto, conversaram longamente sobre a nova doutrina. Daniel demonstrou ser
favorável. Em seguida, despediu de seus pais e partiu, pois sua intenção não
era permanecer na Suécia, mas retornar à América do Norte.
Em 1909, em meio à viagem de retorno aos Estados Unidos,
Daniel orou com insistência a Deus, pedindo o batismo no Espírito Santo. Como
não estava preocupado como da primeira vez, posto que já conhecia os EUA,
canalizou toda a sua atenção à busca da bênção.
Ao aproximar-se das plagas norte-americanas, sua oração foi
respondida. A partir de então, sua vida mudou. Daniel passou a pregar mais a
Palavra de Deus e a contar seu testemunho a todos.
Ainda em 1909, por ocasião de uma conferência em Chicago,
Daniel encontrou-se com o pastor batista Gunnar Vingren, que também fora
batizado no Espírito Santo. Os dois conversaram horas sobre as convicções que
tinham. Uma delas é que tanto um como o outro acreditava que tinham uma chamada
missionária. Quanto mais dialogavam, mais suas chamadas eram fortalecidas.
Quando Vingren estava em South Bend, Daniel Berg estava
trabalhando em uma quitanda em Chicago quando o Espírito Santo mandou que se
mudasse para South Bend. Berg abandonou seu emprego e foi até lá, onde encontrou
Vingren pastoreando a igreja Batista dali. “Irmão Gunnar, Jesus ordenou-me que
eu viesse me encontrar com o irmão para juntos louvarmos o seu nome”, disse
Berg. “Está bem!”, respondeu Vingren com singeleza. Passaram, então, a
encontrar-se diariamente para estudarem as Escrituras e orarem juntos,
esperando uma orientação de Deus.
Após a revelação divina dada ao irmão Olof Uldin de que o
lugar para onde deveriam ir era o Pará, no Brasil, Daniel Berg, contra a
vontade dos seus patrões, abandonou o emprego. Eles argumentaram: “Aqui você
pode pregar o Evangelho também, Daniel; não precisa sair de Chicago”. Mas ele
estava convicto da chamada e não voltou atrás.
Ao se despedir, Berg recebeu de seu patrão uma bolacha e uma
banana. Essa era uma tradição antiga nos Estados Unidos. Simbolizava o desejo
de que jamais faltasse alimento para a pessoa que recebesse a oferta.
Esse gesto serviu de consolo para Berg, que em seguida
partiu com Vingren para Nova Iorque, e de lá para o Brasil em um navio.
No Pará, Daniel, com 26 anos de idade, logo se empregou como
caldereiro e fundidor na Companhia Port of Pará, recebendo salário mensal de 12
mil réis, passou a custear as aulas de português ministradas a Vingren por um
professor particular. No fim do dia, Vingren ensinava o que aprendera a Daniel.
Justamente por isso, Berg nunca aprendeu bem a língua portuguesa. O dinheiro
que sobrava era usado na compra de Bíblias nos Estados Unidos.
Tão logo começou a se fazer entender na língua portuguesa,
passou a evangelizar nas cidades e vilas ao longo da Estrada de Ferro
Belém-Bragança, enquanto Vingren cuidava do trabalho recém-nascido na capital.
Como o evangelho era praticamente desconhecido no interior do Pará, Berg se
tornou o pioneiro da evangelização na região. É que as igrejas evangélicas
existentes na época não tinham recursos suficientes para promover a
evangelização no interior.
Após a evangelização de Bragança, tornou-se também o
pioneiro na evangelização da Ilha de Marajó, onde peregrinou por muitos anos, a
bordo de pequenas e grandes canoas. Berg ia de ilha em ilha, levando a mensagem
bíblica aos pequenos grupos evangélicos que iam se formando por onde passava.
No início de 1920, Daniel visitou a Suécia, onde se enamorou
com a jovem Sara, com quem se casou em 31 de julho daquele ano. Em março de
1921, retornou ao Brasil, acompanhado por sua esposa. O casal teve dois filhos:
David e Débora.
Em 1922, seguiu para Vitória (ES) para estabelecer a
Assembleia de Deus naquela capital, permanecendo até 1924, quando foi para
Santos fundar a AD no Estado de São Paulo. Em 1927, o casal Berg mudou-se para
a capital São Paulo, onde Daniel continuou fazendo seu trabalho de evangelismo
até 1930.
Depois de um período de descanso, seguiu para a obra
missionária em Portugal, entre os anos 1932-1936, na cidade de Porto. Após
passar pela Suécia, retornou ao Brasil, em 11 de maio de 1949. Permaneceu na
cidade de Santo André (SP) até 1962, quando retornou definitivamente para a
Suécia.
Daniel Berg sempre foi muito humilde e simples. Em suas
pregações e diálogos, sempre demonstrou essas virtudes. Ninguém o via irritado
ou desanimado. Sempre que surgia algum problema, estas eram suas palavras:
“Jesus é bom. Glória a Jesus! Aleluia! Jesus é muito bom. Ele salva, batiza no
Espírito Santo e cura os enfermos. Ele faz tudo por nós. Glória a Jesus!
Aleluia!”.
No Jubileu de Ouro das Assembleias de Deus no Brasil, comemorado
em Belém, Berg estava lá, inalterado, enquanto os irmãos faziam referência a
sua atuação no início da obra. Para ele, a glória era única e exclusivamente
para Jesus. Berg considerava-se apenas um instrumento de Deus.
Nas comemorações do Jubileu no Rio de Janeiro, no
Maracanãzinho, quando pastor Paulo Leivas Macalão colocou em sua lapela uma
medalha de ouro, Berg externou visivelmente em seu rosto a ideia de que não
merecia tal honraria.
Até 1960, Berg recebeu, diretamente de Deus, a cura de suas
enfermidades mediante a oração da fé. Mas, a respeito de suas condições de vida
nos seus anos finais, pode-se inferir que não tinha o amparo que merecia. A
esse respeito, o pioneiro Adrião Nobre protestou na revista A Seara, edição de
novembro-dezembro de 1957, p. 32: “O irmão Berg reside em São Paulo (cidade de
Santo André). Não sei como ele vive ultimamente; tive, contudo, notícias
desagradáveis com relação à sua condição de vida – não tem, segundo soube, o
descanso que merece, nem o conforto que lhe devemos proporcionar. Irmãos, não
sejamos injustos, lembremo-nos de auxiliar o tão amado pioneiro da obra
pentecostal no Brasil”.
Em 1963, foi hospitalizado na Suécia. Mesmo assim, ainda
trabalhava para o Senhor. Ele saía da enfermaria para distribuir folhetos e
orar pelos que se decidiam. A disciplina interna do hospital não lhe permitia
fazer esse trabalho, por isso uma enfermeira foi designada para impor-lhe a
proibição. Porém, ao deparar-se com o homem de Deus alquebrado pelo peso dos
anos, mas vigoroso em sua tarefa espiritual, não teve coragem e desistiu da
tarefa. Berg, então, continuou a oferecer literaturas.
Finalmente, em 27 de maio de 1963, aos 79 anos, Daniel Berg
morreu. Sua esposa, Sara, faleceu em 11 de abril de 1981.
Fontes: BERG, Daniel. Enviado por Deus. Rio de Janeiro:
CPAD, 8ª edição, 2000, 208 pp; VINGREN, Ivar. O diário do pioneiro – Gunnar
Vingren. Rio de Janeiro: CPAD, 1ª edição, 1973, 222 pp; CONDE, Emílio. História
das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 1ª edição, 2000. pp.
19- 50; Ivar Vingren skriver om svensk pingstmission i Brasilien - Från
missionsInstitutes serie av missionärsberättelser (Ivar Vingren escreve sobre a
missão pentecostal sueca no Brasil - Da série de relatos de missionários do
Instituto de Missões). Suécia, 1994, pp. 20-27; DESPERTAMENTO apostólico no
Brasil. Tradução: Ivar Vingren. Rio de Janeiro: CPAD, 1987, pp. 7-44; VINGREN,
Ivar. Det började i Pará - Svensk Pingstmission i Brasilien (Tudo começou no
Pará - missão pentecostal sueca no Brasil). Ekrö, Suécia:
MissionsInstitutet-PMU, 1994, pp. 28-34; Boa Semente, Belém (PA), setembro
1930, p. 5; Mensageiro da Paz, CPAD, setembro 1999; janeiro 1997; dezembro
1985; junho 1980; março 1980; agosto 1936, p. 5, 1a quinzena; julho 1936, p. 7,
2a quinzena; fevereiro 1933, p. 7, 2a quinzena; julho 1963 p. 1 2a quinzena;
novembro 1933, p. 6, 2a quinzena; novembro 1989, p. 12; setembro 1981; Obreiro,
CPAD, jan-mar 1979, pp.42-45; A Seara, CPAD, janeiro 1957, pp. 23-26, 36; julho
1963, pp. 4, 5.
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